Filantropia que transforma
Filantropia que transforma

Filantropia que transforma

Graciela Hopstein
Jonathas Azevedo

Mesmo para os padrões de nosso mundo cada vez mais polarizado, a eleição presidencial de 2022 no Brasil foi particularmente tóxica. A campanha foi marcada por desinformação, assédio e violência. 

O resultado foi apertado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), venceu o segundo turno da eleição presidencial no final de outubro, derrotando por pouco o atual presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL). Mas, em novembro, Bolsonaro entrou com um recurso no tribunal, alegando que o sistema de votação do país estava repleto de fraudes. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou o caso, dizendo que Bolsonaro agiu de má-fé. 

O país ainda está se recuperando do governo autoritário de Bolsonaro.  Em 2023, o Civicus Monitor classificou a sociedade civil do Brasil como “obstruída”.  Isso significa que a Rede Comuá, parceira da Aliança Giving for Change – uma rede de 18 organizações independentes doadoras comprometidas com a construção de uma sociedade civil socialmente justa – se encontra ainda frente a um legado de opressão a ser superado.  Como diz o relatório anual da Comuá de 2023:

 “No primeiro semestre do governo Lula, os esforços para reconhecer os direitos das minorias políticas foram evidentes. Melhorias econômicas, incluindo o crescimento e a redução da inflação, contribuíram para um sentimento geral de otimismo em relação ao futuro do país… No entanto, as ameaças ao acesso aos direitos por parte de grupos marginalizados persistem, bem como seu acesso a recursos para continuar lutando e protegendo suas vidas e territórios.”

Esse foi o contexto da primeira entrevista presencial realizada com um parceiro do Giving for Change. A entrevista foi realizada às margens do Fórum WINGS em Nairóbi, Quênia, em outubro de 2023. Ese Emerhi (Global Fund for Community Foundations – GFCF) e Barry Knight (consultor do GFCF) conversaram com Graciela Hopstein, Diretora Executiva da Rede Comuá, e Jonathas Azevedo, Assessor de Programas, para saber mais sobre o trabalho deles pelo apoio e fomento à filantropia comunitária por meio do programa Giving for Change.

Barry Knight (BK): Vamos começar falando um pouco sobre vocês, suas formações e como entraram nesse campo de filantropia, justiça social e desenvolvimento comunitário?

Graciela Hopstein (GH): Minha graduação e pós-graduação são em Educação, e meu doutorado é em Política Social. Trabalhei na área acadêmica por 14 anos até 2014, lecionando e realizando atividades de pesquisa em diferentes universidades no Brasil e na Argentina. Em 2009, comecei a trabalhar na sociedade civil, e meu primeiro emprego foi em um fundo independente, trabalhando como consultora para a BrazilFoundation – um fundo da diáspora [brasileira]. Acho que foi um bom começo para mim, trabalhar com filantropia independente, porque na época eu não sabia nada sobre o campo da filantropia. Mais tarde, fui convidada para dirigir o Instituto Rio, uma fundação comunitária que financiava projetos na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Infelizmente, o Instituto Rio não existe mais, mas dirigi essa organização por cinco anos (entre 2012 e 2016). Nossa primeira doação foi, na verdade, do Global Fund for Community Foundations. Em 2014, fui bolsista do CUNY International Fellows Program on Community Philanthropy.

Jonathas Azevedo (JA): No meu caso, minha formação é em Relações Internacionais. Quando eu estava na universidade, estava um pouco perdido. Não sabia o que fazer. Relações Internacionais poderia abranger qualquer coisa. E então tive uma disciplina eletiva sobre desenvolvimento internacional e ajuda humanitária. Foi quando pensei: “Ok, é isso que quero fazer”. Comecei a trabalhar como captador de recursos com os Médicos Sem Fronteiras. Mas senti que queria trabalhar um pouco mais no gerenciamento de programas. Candidatei-me para trabalhar em uma organização da sociedade civil chamada Viva Rio, que começou como um movimento social pela paz no Rio de Janeiro. Eles também trabalhavam na área de saúde, gerenciando programas de saúde no Rio de Janeiro em parceria com a prefeitura e o governo do estado. Foi quando me dei conta de algumas das dinâmicas de poder no setor como uma organização que recebe financiamento. 

Dois anos depois de trabalhar com o Viva Rio, eles me convidaram para ir ao Haiti. Passei dois anos lá. Estávamos implementando um programa de redução da violência comunitária junto com organizações de base, líderes comunitários, a Polícia Nacional do Haiti e outros parceiros. O Haiti foi um ponto de virada para mim também, tanto profissional quanto pessoalmente. Uma coisa é ver os desafios do setor de desenvolvimento internacional por meio de documentários, artigos e tudo o mais, e outra coisa é vivenciá-los pessoalmente. Durante esse período, houve também o infame escândalo da Oxfam. Foi um período muito decepcionante e frustrante para mim. Deixei o Haiti e fiz um mestrado no Reino Unido (com uma bolsa de estudos). Estudei inovação social e empreendedorismo na LSE. Mas minha experiência lá também foi frustrante, é uma instituição muito complicada. Tivemos que lutar muito, tentar decolonizar grande parte da instituição.

Voltei ao Brasil e decidi trabalhar na área de monitoramento e avaliação como consultor. Eu queria trabalhar com organizações da sociedade civil que estivessem de fato realizando o trabalho nos territórios, movimentos sociais e assim por diante. Durante a consultoria, conheci a Rede Comuá. Elas eram um dos clientes da empresa de consultoria para a qual eu trabalhava na época. Foi por meio desse trabalho que conheci o relatório Measuring What Matters (Medindo o que importa). Foi assim que me apaixonei pelo trabalho promovido pelos membros da Comuá. 

BK: Falem-nos sobre o contexto político no Brasil. Na última vez em que estive lá, em 2020, as coisas estavam sombrias. As coisas mudaram?

GH: Sim, mudou completamente. Bem, no início do ano, com um novo governo, o ambiente político mudou muito, especificamente para as pessoas e para os setores que estão trabalhando com justiça social e sociedade civil, porque eles estavam realmente sob ataque durante a administração de Bolsonaro. Havia muitas questões relacionadas à segurança e à proteção. Durante a pandemia de Covid-19 com Bolsonaro, as coisas ficaram ainda piores. 

Nossas rotinas mudaram muito. Podemos respirar um pouco mais facilmente. É completamente diferente. E acho que também a situação econômica mudou muito. Lula era realmente o único que poderia derrotar Bolsonaro. Estamos contentes, com uma perspectiva diferente sob sua liderança, apesar de vivermos em um sistema democrático com todas as suas contradições. Começamos 2023 com um ataque à democracia – o incidente de 8 de janeiro. Há uma investigação em andamento e algumas pessoas por trás desse ataque foram presas. 

JA: Embora estejamos felizes com o Lula, percebemos que há muitas contradições em seu governo relacionadas às políticas ambientais e de desenvolvimento. Sua mentalidade ainda está presa à “industrialização”. Além disso, ainda enfrentamos o legado do governo Bolsonaro, com a maioria do Congresso Nacional sendo de direita, o que torna as coisas mais difíceis para Lula governar. Recentemente, tivemos um aumento na legislação antitrans em nível local, estadual e nacional. Também houve duas comissões parlamentares de inquérito (CPI) investigando movimentos sociais e organizações da sociedade civil, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o maior movimento social do Brasil. Embora não estejamos mais sendo atacados diretamente pelo governo [nacional], ainda há alguns atores tentando minar o papel da sociedade civil.

BA: Como tudo isso afetou seu trabalho como uma rede? Isso teve um efeito positivo na maneira como vocês operam?

GH: Isso afetou nosso trabalho de forma positiva. Antes, estávamos muito preocupados, mas agora podemos nos concentrar apenas no trabalho. Agora temos 16 membros como parte da Rede. Embora a experiência da pandemia de Covid-19 tenha sido horrível, ela nos deu a oportunidade de estarmos juntos como uma Rede. A pandemia nos deu um problema comum a ser superado.  

O programa Giving for Change foi um ponto de virada para nós como Rede, não apenas por causa dos recursos, mas também porque nos deu a oportunidade de estruturar e fortalecer nosso programa de incidência perante todo o ecossistema. Com nossos membros, estruturamos nosso trabalho em dois componentes – (i) capacitação e apoio estratégico por meio de doações financeiras para fortalecimento do trabalho do Programa de Incidência e (ii) desenvolvimento de iniciativas conjuntas de incidência voltadas para o ecossistema filantrópico.

EE: O trabalho de incidência que vejo a Rede Comuá realizando é bastante notável. Que lições vocês podem compartilhar do seu trabalho de advocacy em nível nacional?

JA: Como parte do nosso trabalho de incidência, tivemos que encontrar uma narrativa comum. Como temos 16 membros, isso significa que as questões com as quais eles trabalham são bastante diversas. O programa Giving for Change nos ajudou a definir nossa narrativa comum. No nosso caso, tratava-se do fortalecimento da sociedade civil. Todos os nossos membros – eles fortalecem a sociedade civil, financiam a sociedade civil, especialmente os grupos minorizados. E, ao financiar esses grupos, estamos fortalecendo a democracia brasileira. Portanto, esse é o ponto em comum. 

Durante nosso seminário de 10º aniversário em 2022, foi a primeira vez que os membros se reuniram pessoalmente desde a pandemia da COVID-19, e foi um momento para solidificar nossa narrativa coletiva. Foi um longo processo para chegarmos a esse ponto, mas vimos como os membros estavam todos engajados e conectados à narrativa comum – a mensagem clara era que todos nós estamos trabalhando para financiar a sociedade civil. Financiamos grupos marginalizados porque acreditamos que essa é a maneira de fortalecer o acesso aos direitos. Vemos a democracia como o acesso aos direitos, não apenas o voto.

Criamos espaços para facilitar a colaboração, como, por exemplo, as comunidades de prática. Essas são oportunidades para que os membros se conectem profundamente em nível pessoal, criem novos relacionamentos, construam confiança uns com os outros e comecem a testar e colaborar em novas iniciativas. A Aliança entre Fundos, composta por três organizações membros – Fundo Brasil, Fundo Baobá e Fundo Casa Socioambiental – é outro caso interessante. Até o momento, eles apoiaram 78 organizações quilombolas e indígenas, e 55 delas nunca haviam recebido financiamento ou apoio de nenhuma outra organização. Acho que o trabalho em torno da democratização de recursos é um ativo que temos na rede.

BK: Trabalho realmente interessante porque uma das coisas que descobrimos é que, na verdade, os grupos minorizados simplesmente não têm mais voz, exceto por meio de pessoas que não fazem parte desse grupo minorizado. Assim, as pessoas começam a falar em nome de outras pessoas. O fato de você estar usando as vozes, as vozes autênticas de grupos marginalizados, é ótimo.

EE: Vocês podem nos dar outros exemplos de como estão apoiando grupos/comunidades minorizados?

JA: O ISPN é outra organização membro da nossa rede. Eles trabalham com comunidades indígenas em diferentes partes do Brasil. No âmbito do programa Giving for Change, fizemos um apoio estratégico ao ISPN, e eles desenvolveram um programa conjunto com um grupo de mulheres indígenas chamado Guerreiras da Floresta, do território indígena Caru. Após uma avaliação feita pelas mulheres indígenas, elas perceberam que as comunidades vizinhas que estavam ameaçando suas terras indígenas também estavam em uma situação de muita vulnerabilidade. Elas tiveram a ideia de criar um programa de micro-apoios (o valor máximo da doação era de US$ 1.000) para apoiar essas comunidades vizinhas, com a ideia de que as doações as ajudariam a estabelecer confiança e fortalecer suas relações com essas comunidades e que, talvez, elas parassem de atacá-las. Foi um sucesso! As mulheres indígenas estiveram totalmente envolvidas desde o início do processo – elaborando a chamada de propostas, as visitas às comunidades, etc. 

EE: Isso é ótimo – um trabalho muito inspirador. Vocês vêem seu trabalho de incidência se expandindo para outras regiões da América Latina ou internacionalmente, por exemplo? Como o programa Giving for Change está em seu terceiro ano, como podemos promover uma estratégia de incidência coletiva?

GH: Acho que talvez precisemos enfatizar mais a conexão internacional. É importante, por exemplo, conectar-se regionalmente na América Latina. Acho que esse é um foco muito importante. Mas em termos de incidência, talvez no Brasil seja realmente muito importante que tenhamos uma conexão mais forte com institutos e fundações, familiares e corporativos, ou, por exemplo, com a Associação de Captadores de Recursos (ABCR), ou outros. Já temos conexões com muitas organizações e fóruns internacionais, como WINGS, onde podemos compartilhar o impacto de nosso trabalho. 

BK: Isso me lembra o tipo de trabalho que a Dalit Foundation, na Índia, está fazendo em relação aos “intocáveis”. Ao se conectarem a fóruns globais e organizações internacionais como a Foundation for Peace, eles conseguem ter uma influência global. Você vê esse tipo de modelo evoluindo no espaço brasileiro?

GH: Sim, com certeza. E estamos, por exemplo, trabalhando com o GIFE, buscando dialogar com  seus associados, mostrando o que é a filantropia comunitária. Foi um processo muito interessante, porque fizemos muitas entrevistas, mas também criamos uma agenda relacionada à filantropia comunitária. Acho que realmente precisamos de mais tempo, mas pelo menos agora a agenda da filantropia comunitária está na mesa. Precisamos ir além, precisamos fortalecer essa agenda. Para nós, é como mostrar que se trata de uma abordagem, de um conceito material, porque não é apenas teoria. Eles agora percebem que é possível construir a filantropia com as comunidades para as comunidades.

BK: Quais são as outras comunidades marginalizadas no Brasil? Quem são as pessoas que normalmente estão fora do sistema?

JA: A população negra no Brasil. Eles são [mais de] 50% da população, portanto não são uma minoria nesse sentido, mas em termos de acesso a direitos, são uma minoria política. A população LGBTQI+ também, especialmente a comunidade trans. Outros tipos de comunidades tradicionais ribeirinhas, por exemplo, na zona rural. Os quilombolas, descendentes de pessoas escravizadas que resistiram à escravidão, são outro grupo marginalizado. E as mulheres de modo geral.

BK: De certa forma, vemos que a política é importante. O Brasil costumava ser um dos países mais desiguais do mundo. As duas últimas administrações governamentais fizeram o Brasil retroceder ainda mais.

A história que estou ouvindo dos parceiros da aliança Giving for Change Alliance é que, sim, o programa lhe proporcionou recursos adicionais. Mas, mais do que isso, ele lhe deu espaço para que você possa fazer mais do que já faz, só que agora de forma muito mais intencional e melhor. Para vocês, o foco tem sido a incidência e, em especial, a atenção aos grupos minorizados. Portanto, vocês estão realmente mudando a estrutura social em termos do seu trabalho, dando uma forma mais clara ao trabalho que fazem. Esse é um resumo justo do que o programa permitiu que você fizesse?

GH: Sim, e outro componente é que nosso trabalho de incidência nos ajudou na produção de conhecimento e materiais de comunicação. A produção de conhecimento é importante para mostrar nosso trabalho, construir nossa agenda e mostrar como os financiadores podem apoiar muitas dessas iniciativas, como a filantropia comunitária. Fizemos uma extensa pesquisa, que resultou em um mapeamento dos fundos independentes no Brasil. Esse exercício de mapeamento nos ajudou a identificar 17 fundos comunitários independentes, todos relacionados a movimentos sociais de uma forma ou de outra. No Brasil, temos uma abordagem filosófica muito tradicional e conservadora em relação à filantropia e, normalmente, ela não apoia iniciativas locais, portanto, nosso trabalho de pesquisa ajuda a destacar abordagens alternativas. 

JA: O Programa Saberes é outra parte de nosso trabalho de incidência. Selecionamos líderes comunitários, pessoas que trabalham com filantropia comunitária, movimentos sociais e assim por diante. São elas que produzem conhecimento em diferentes formatos, pois acreditamos que não são apenas os formatos acadêmicos de conhecimento que importam. Por exemplo, um dos pesquisadores, Ronaldo de Yemojá, vive no sul da Bahia. Ele é líder de uma religião afro-brasileira chamada Jurema, que é outro grupo marginalizado, pessoas de religiões afro-brasileiras. No caso dele, ele está usando a tradição oral de contar histórias (podcasts), porque essa é a maneira ancestral de compartilhar conhecimento nas comunidades negras do Brasil. Embora eles estejam fazendo filantropia comunitária, não a chamam assim.

EE: Vocês estão prestes a ter um segundo grupo do Programa Saberes, correto? Uma coisa que acho interessante é que, dentro do programa Giving for Change, há três abordagens diferentes de trabalho com agentes de mudança – desde os bolsistas #ShiftThePower da GFCF até os Campeões Comunitários da Micaia e agora os pesquisadores do Saberes da Rede Comuá. Seria bom explorarmos juntos o que essas três iniciativas distintas fizeram para que possamos comparar nossos aprendizados e trabalhos: como a mudança está ocorrendo com esses líderes? E como isso se relaciona com a mudança de percepções sobre liderança e produção de conhecimento?

JA: Sim, a convocatória para a segunda turma está acontecendo este mês e esperamos ter aproximadamente o mesmo número de participantes para a segunda turma, até dez participantes. (Na época da publicação desta entrevista, a segunda turma do Programa Saberes já havia sido anunciada).

BK: Graciela, você mencionou a comunicação como parte integrante do seu trabalho. E vocês têm uma ótima história para contar. Vocês a estão contando? Na Europa, por exemplo, a filantropia ainda é muito tradicional, ainda é muito linear em termos de pensamento. Mas o que vocês estão construindo com a Rede Comuá é uma maneira muito diferente de ser, fazer e pensar, usando redes para alcançar ecossistemas inteiros no Brasil. Essa é uma maneira muito poderosa de operar.

GH: Poderíamos estar fazendo mais para contar nossa história. Temos muitos dados porque todo ano realizamos uma pesquisa com nossos membros. É uma pesquisa longa, mas também estamos mapeando relacionamentos com parcerias e redes internacionais. 

BK: Onde vocês querem chegar com os dois anos restantes do programa Giving for Change?

GH: Temos duas alianças dentro da Rede. Uma das alianças é entre três fundos; é um trabalho interessante porque, além da mobilização de recursos, eles também estão trocando experiências e criando novas iniciativas. A segunda aliança – Aliança Territorial – é entre sete membros. Juntos como uma aliança, eles estão achando mais fácil mobilizar recursos, porque localmente não temos uma tradição de doação, então, trabalhando juntos, eles conseguem atrair recursos de organizações internacionais. Elas também fazem muitas pesquisas, por exemplo, mostram em que territórios estão trabalhando, o montante de doações que realizam, em que área temática as doações estão, etc. Acredito que essa segunda aliança terá potencial para novas parcerias na Rede e fora dela.

JA: Essa Aliança Territorial também está mostrando que há outra maneira de colaborar que é mais impactante e que tem o efeito de fortalecer a sociedade civil, de apoio à justiça social e aos grupos marginalizados. 

EE: Vocês estão esperançosos em relação aos próximos dois anos?

GH: Completamente. Acho que a Rede vai crescer. Na verdade, o exercício de pesquisa de mapeamento nos deu uma perspectiva muito boa. Acho que teremos uns quatro ou cinco novos membros por causa disso. Portanto, acho que vamos crescer em termos de membros, em termos de recursos, e isso é realmente muito importante. O programa Giving for Change nos deu a possibilidade de ter novos financiadores porque ganhamos muita visibilidade e, por causa desse trabalho, estamos prospectando pelo menos dois ou três novos financiadores. Para nós, o dinheiro que vem de fundações nacionais (ou investidores sociais privados) no Brasil é realmente muito pouco. Mas, politicamente, é mais importante tê-los como parceiros. 

BK: O que ajudaria a passar para o próximo estágio? O desenvolvimento orgânico de que vocês falaram? O que ajudaria a fazer essa mudança?

GH: A Rede não era formalizada quando começamos. Agora, a Rede Comuá é uma organização registrada no Brasil. A formalização da Rede foi um desenvolvimento significativo que influenciou a trajetória da organização no âmbito do programa Giving for Change, pois apoia a sustentabilidade geral dos esforços de incidência da Rede. Acho que o próximo desafio para nós agora é como criar um processo em termos de fortalecimento da nossa Rede como instituição. Não queremos institucionalizar a Rede, mas precisamos criar processos para a Rede que permitam que a mudança ocorra, como sistemas de gerenciamento e contas bancárias, governança, etc.

Acho que outra coisa é fortalecermos nossas conexões de forma mais ampla com nossos parceiros e instituições africanas. Já estamos fazendo isso por meio do programa Giving for Change, mas essa conexão com o continente africano é muito importante para nós. 

BK: Sim, uma verdadeira conexão Sul-Sul é fundamental. Obrigado por essa conversa agradável!

Graciela Hopstein é a Diretora Executiva da Rede Comuá. Jonathas Azevedo é o Diretor de Programas da Rede Comuá, e este artigo também foi traduzido para o inglês.