Continuar o trabalho em meio a um conflito violento requer habilidade, resiliência e inteligência. Para os palestinos, os últimos 100 anos trouxeram colonização, expulsão e ocupação militar, seguidas por uma longa e difícil busca pela autodeterminação e pela coexistência com a nação que eles consideram responsável por seus sofrimentos e perdas.
De acordo com o Civicus Monitor, o povo da Palestina é classificado como “reprimido”. As liberdades cívicas na Palestina continuam a se deteriorar com uma escalada de ataques das forças de ocupação israelenses a organizações da sociedade civil, jornalistas e defensores dos direitos humanos.
O conflito continua a ser ignorado pelo mundo. Aarti Narsee, Diretora de Pesquisa sobre Espaço Cívico da aliança global Civicus, disse recentemente:
“A deterioração das liberdades cívicas na Palestina devido aos crescentes ataques das forças de ocupação israelenses não pode mais ser ignorada. É hora dos governos democráticos quebrarem o silêncio e condenarem o regime de apartheid de dominação e opressão racial sistemática de Israel sobre o povo palestino como um todo, além de imporem sanções econômicas e diplomáticas a Israel”.
No entanto, a Dalia Association faz o possível para que os palestinos tenham uma vida próspera. “Dalia” em árabe significa “videira”. Quase todas as casas na Palestina têm uma videira e, se for bem cuidada, a planta oferece alimentos, proteção e beleza por gerações. Isso é exatamente o que a Dalia Association faz: é uma organização de filantropia comunitária enraizada nos sonhos dos palestinos, que se apresenta, em suas próprias palavras, como “um mecanismo para nos tornarmos nossos próprios doadores, investidores e tomadores de decisão”.
Ese Emerhi (Global Fund for Community Foundations – GFCF) e Barry Knight (conselheiro do GFCF) conversaram com Samar Awaad, Diretora Executiva da Dalia Association, e com Lina Ismai’l, Diretora de Programas Comunitários da organização, para conhecer melhor como a instituição vem trabalhando para a construção da filantropia comunitária por meio do programa Giving for Change (Doar para Mudar). A presente entrevista foi realizada em outubro de 2022.
A situação atual na Palestina
Barry Knight (BK): Como estão as coisas na Palestina? Qual é a situação nesse momento?
Awaad (SA): Bem, a situação nesse momento – a situação política – é a ocupação israelense e a dificuldade dos palestinos para poder viajar de um lugar para outro. Em alguns casos, bairros que ficam em regiões que são praticamente becos sem saída precisam de permissão para ir e vir, e isso é um desafio. De certa forma, estamos em uma situação de apartheid. Não sei se existe algo parecido com essa situação em algum outro lugar do mundo. Estamos vivendo em uma grande prisão, mas na Cisjordânia não sentimos isso porque Ramallah fica em uma espécie de bolha. Se eu quiser viajar para Jericó, devo garantir que alguém esteja comigo para que eu não seja atacada ou tenha minha viagem prejudicada de alguma forma pelos colonos. Esse confinamento limita a acessibilidade das pessoas e tem impacto na implementação de projetos. Por exemplo, estamos implementando esse programa em Gaza e temos dois funcionários lá, mas não conseguimos acompanhar visualmente os projetos. Eles não podem sair de Gaza e nós não podemos entrar. E pensar que Gaza fica a apenas uma hora e quinze minutos de Ramallah [onde estamos]. Esse desafio da ocupação é algo com que os palestinos convivem por toda a vida. Imaginar a vida sem a ocupação é como um sonho.
Lina Ismai’l (LI): No mês passado, houve uma escalada de violência contra os palestinos. Há um campo de refugiados que agora está fechado e o suprimento de alimentos não consegue entrar. Houve manifestações e protestos em toda a Cisjordânia. Há poucos dias estávamos em greve geral. Todos os dias, abrimos os jornais e lemos sobre outro mártir aqui e ali. Não é uma situação fácil. Além disso, há ataques a organizações da sociedade civil. Durante esse ano, as forças militares israelenses atacaram sete organizações, uma delas é nossa parceira – o Bisan Center. Tudo isso, é claro, além da aplicação do decreto formulado pelas autoridades palestinas que restringe o espaço cívico para a sociedade civil. Atualmente, ficamos preocupadas até quando precisamos viajar para uma cidade vizinha.
Trabalhando em meio ao conflito
BK: Como conseguem operar nessas condições, como vocês colocaram, de apartheid?
SA: Estamos muito conscientes do nosso movimento. Ontem, nosso escritório fechou devido à greve geral e nossos colaboradores de campo estão reagendando seus compromissos e seus movimentos de acordo com a situação. Então, vamos improvisando. Sempre que há uma opção aqui ou ali ou um acesso a uma determinada comunidade, nosso pessoal de campo está por lá. Passamos a fazer reuniões de monitoramento online com esses colaboradores; [por exemplo] eles têm acesso a Gaza, nós não.
Com a escalada da violência no norte, a região está agora praticamente fechada. Existem pequenas milícias de colonos israelenses – armadas – que trabalham em estreita colaboração com os militares. Esse é um movimento novo que temos acompanhado de perto – principalmente pela TV. Há falsas acusações de palestinos atacando agressivamente os colonos, mas quem realmente está atacando quem? Às vezes, quando nossa equipe os vê ao voltar para casa, ela precisa desviar e pegar outro caminho para evitar encontrá-los, o que pode fazer com que o trajeto dure quase uma hora e meia.
Ese Emerhi (EE): Quais os efeitos psicológicos disso no seu trabalho? Como vocês sabem, no mapa da rede #ShiftThePower, uma das 12 áreas de colaboração é “autocuidado e solidariedade”. Percebo o trabalho da Dalia Association como dentro dessa área de colaboração. A quem vocês procuram quando buscam inspiração, apoio pessoal e energia renovada, diante dessa persistente resistência ao seu trabalho? Se puderem falar livremente sobre isso, e se essa situação de ter que lidar com a ansiedade e o stress da ocupação é um “novo normal”.
SA: Com certeza, isso nos afeta muito de perto. A tendência é nos encolhermos e ficarmos em casa. Não saio de Ramallah há dois meses. Pode imaginar como é isso? [Pode imaginar] a ansiedade e a expectativa se você quiser viajar? A tendência é escolher sua bolha e ficar lá. De vez em quando, podemos sair e viajar, mas geralmente é para algum lugar próximo que sabemos ser seguro.
LI: Eu acrescentaria que existe um sentimento geral de depressão em toda a população. E a gente vê e vive isso de perto. Trabalhamos com comunidades, com iniciativas voltadas para jovens e mulheres, e está cada vez mais difícil até falar em mobilização. Imagine olhar as notícias e ler sobre territórios fechados, mortes e estar constantemente preocupado com sua família. Ao mesmo tempo, você tem sua rotina normal de trabalho, que é muito estressante. Às vezes, tentamos ignorar esses sentimentos e deixá-los de lado, em vez de falar sobre eles. Mas, às vezes, tudo isso pode emergir de repente e aí você não funciona direito, porque tudo aquilo fica dentro de você. Nada sobre nossas vidas é normal. Na verdade, não sei como funcionamos, trabalhando mais de oito horas por dia assim. Mas o trabalho de alguma forma se tornou nosso mecanismo de enfrentamento.
Quando se trata de autocuidado, não temos colocado tanta energia nesse aspecto. No futuro, esperamos ter uma reunião interna da equipe, para falar, como mulheres, sobre algumas dessas coisas. Como podemos mobilizar mulheres? Qual é a parte psicológica? Espero que possamos trabalhar nisso nos próximos meses.
BK: Isso é importante. O efeito de longo prazo do medo e da ansiedade afeta o corpo físico e sua psique. Como vocês se mantém positivas nessas circunstâncias? Estou com vocês, do fundo do meu coração; tenho um enorme respeito pelo fato estarem conseguindo fazer tanta coisa em meio a esse contexto.
SA: Vou contar como pessoalmente dou conta disso tudo. Faço ioga três vezes por semana e caminhadas ao ar livre pelo menos uma vez por semana. Isso é o que eu faço para me manter firme e centrada. Também escuto a coachesintuitivos, que me ajudaram a fazer a mudança mental de não reagir por medo, mas sim por amor. Estou mudando todo o meu jeito de ser em direção a esse novo conceito.
BK: Se você conseguir isso, é de fato uma transição muito poderosa!
Programa Giving for Change (Doar para Mudar)
BK: Como está o programa Giving for Change? Tem ajudado na forma como vocês interagem com seu trabalho, ou o programa se tornou mais um fardo?
SA: É incrível; adoramos o programa Giving for Change, tem uma energia incrível. Estamos muito orgulhosos de que haja algo assim onde podemos fazer nosso melhor e que pode dar esperança às nossas comunidades. Nos inteiramos do trabalho que nossos coordenadores estão fazendo em Gaza e da energia com que é desenvolvido.
LI: Para nós, o Giving for Change é uma consolidação de nossos outros programas – trabalhando com jovens e mulheres, e em nossa área temática de soberania alimentar. Ele foi desenhado para começarmos na base trabalhando com iniciativas lideradas por jovens e focadas em mulheres para mobilizá-las e entender suas necessidades e quão ativas são em suas comunidades. A partir daí, avançamos. Nossas pequenas doações técnicas são outra forma de dar apoio moral, pois nossos coordenadores de campo estão sempre presentes para trabalhar com elas.
Desenvolvemos um currículo de mobilização comunitária e filantropia comunitária e o transformamos em uma formação intensiva para implementá-lo. Antes esse conteúdo era ensinado em uma série de aulas, mas a formação intensiva é diferente – você vê os jovens trabalhando juntos, passando tempo juntos e se unindo, rompendo todas essas barreiras mentais e físicas/geográficas. É um espaço seguro para expressarem o que sentem, suas necessidades e identificar quais recursos eles têm para enfrentar os desafios. Essa formação [chamada “Community Philanthropy Camp”] é um dos destaques do programa Giving for Change, e nos permitiu desenvolver o nosso próprio currículo. Uma das consequências disso é que os jovens não querem mais ir embora. Antes, o desafio era fazer com que deixassem suas atividades cotidianas por três ou quatro dias para vir para a formação; e quando chegavam, pareciam cansados e deprimidos. Mas agora com o sucesso do currículo, eles querem vir e ficar mais tempo porque se sentem conectados. Eles continuam nos ligando e perguntando: quando a gente vai ter outro encontro?
SA: Também há uma grande diversidade nessa formação. Eles chegam aqui com todos esses diferentes papéis que desempenham nas esferas pública e da vida pessoal e, às vezes, quando a comunicação é limitada, essas esferas não se misturam. Quando estão todos juntos em um só lugar, as diferenças são superadas e eles conseguem ver que têm mais em comum, como palestinos, sabe?
BK: Esse é um ótimo indicador e uma demonstração dos relacionamentos baseados em confiança que sustentam o trabalho. É um forte contraste com a situação política em que vocês vivem, onde não há confiança. E isso é poderoso. Acompanho o progresso da Dalia Association há muitos anos e uma das coisas que sempre me impressionou, uma coisa muito poderosa, é a maneira como vocês formaram comunidades e têm usado a filantropia comunitária como um método participativo de fazer doações. Vocês ainda estão usando esse tipo de abordagem, apesar dessa opressão que precisam enfrentar?
LI: Sim, estamos. O ciclo de doações e a doação participativa são os mesmos e, embora tenhamos experimentado diferentes abordagens, tudo tem sido participativo. Quando começamos, por exemplo, com a tomada de decisão participativa sobre a seleção de projetos e as doações em si, tudo isso era aberto às comunidades. Agora estamos experimentando ter um comitê de membros da comunidade que possam fazer parte da seleção de projetos.
No que diz respeito à filantropia comunitária, estamos promovendo a abordagem junto às comunidades e iniciativas com as quais trabalhamos, deixando claro que qualquer contribuição que possam dar é um recurso valioso. Se essa contribuição é por meio de voluntariado ou oferecendo um determinado equipamento, isso é filantropia comunitária. Assim, começam a perceber como mobilizar seus próprios recursos além das doações que fazemos para suas iniciativas.
BK: Essa é uma perspectiva muito importante, que os recursos da comunidade são muito mais do que dinheiro e que, se pensarmos bem, todos temos capacidades com as quais podemos contribuir.
SA: Outra coisa que estamos fazendo na Dalia é redes de relacionamento; e isso quer dizer rede de relacionamento com as organizações da sociedade civil (OSCs) mesmo. Estamos trabalhando em rede como indivíduos, como comunidades e como OSCs. Por exemplo, temos um convênio com o Expertise Forum, que é uma associação para idosos onde eles têm atividades diárias – ioga, exercícios, miçangas, etc. Seus membros são nossos voluntários e trabalham conosco em nossa loja. Sempre que temos eventos, os convidamos a participar, e também usamos seus conhecimentos em nossos encontros de formação.
Outra parceria que temos é com universidades. Estamos trabalhando em um programa com o departamento de design de uma universidade para incorporar nosso brechó ao curso de moda reciclável. Ainda, temos parceria com uma organização chamada SOS com a qual trocamos roupas de segunda-mão para a nossa loja. São muitas as parcerias com outras OSCs, em campo, onde nos apoiamos mutuamente e complementamos seu trabalho.
Defesa de direitos e influência junto a outros atores
BK: Imagino que, dada a situação política na Palestina, existam limitações reais sobre como vocês podem efetivamente lutar por direitos em questões-chave. Como estão atuando na luta pelas mudanças sistêmicas necessárias para a efetividade de seu trabalho?
LI: Isso depende do contexto. Por exemplo, se for uma situação problemática com o governo, não forçamos nosso ativismo. Preferimos nos concentrar em questões ou demandas específicas. Encontramos bolsões e lugares onde podemos trabalhar e usar nossas campanhas de defesa de direitos – por exemplo, nossas iniciativas sobre os direitos das pessoas com deficiência e direito de acesso ao transporte público. Estamos trabalhando com organizações de base para que comecem suas próprias campanhas e militem por suas demandas específicas.
Conversamos com o Ministro da Agricultura sobre a soberania alimentar, o que isso significa e a diferença entre o conceito e a atual política agrícola, que é ruim, mas não acho que entenderam apesar do estudo que apresentamos. E dada a situação atual, reconhecemos que pode não haver vontade política para receber contribuições de OSCs sobre esse assunto. Portanto, estamos escolhendo quando avançar nessa questão. Em vez disso, estamos nos concentrando em construir nossa força, nosso ímpeto como organizações de base e da sociedade civil trabalhando na filantropia comunitária. Mas, em outro nível, também vamos explorando como podemos destacar a filantropia comunitária com a agenda de outros doadores internacionais. O desafio é como deslocar localmente o poder e defender esta lógica de atuação e tomada de decisão em nível nacional, envolvendo outras organizações e doadores.
SA: O verdadeiro desafio para nós é como transferir o poder localmente e adotar essa forma de ação na Palestina… queremos trabalhar mais nisso em 2023. Portanto, há duas vias na luta pela mudança – a nacional e a internacional.
Construindo conexões e o que vem por aí para a Dalia Association
BK: Como o programa Giving for Change pode apoiar vocês?
SA: Acho que já está fazendo isso. Podemos, no entanto, ampliar para mais comunidades e redes, locais e regionais, que precisamos alcançar. O programa pode nos ajudar nesse sentido.
EE: Para vocês, em que medida ocorreu a formação de redes de relacionamento e solidariedade com outros parceiros que fazem parte do Giving for Change? Estou ciente não apenas da distância física entre vocês e os outros seis parceiros no continente africano e até mesmo com o Brasil, mas espero que haja um sentimento de conexão aí para que esse aprendizado entre pares e troca entre países possa realmente acontecer.
SA: Obrigado por essa pergunta. Sempre achei que a Palestina é um pouco atípica dentro do programa – somos a única organização do Oriente Médio. O encontro dos parceiros em Accra foi fundamental para preparar o espaço para nós e nos fazer sentir como parte de uma grande família. Eu não queria perder a energia e o ímpeto que surgiu em Accra depois que voltamos para cá. Foi uma verdadeira revelação.
Após o encontro, a exibição do filme que fizemos com o apoio do Global Fund for Community Foundations, The Untold Revolution – Food Sovereignty in Palestine (A Revolução Não Contada – Soberania Alimentar na Palestina) também nos ajudou a nos sentirmos conectadas e nos deu a oportunidade de compartilhar nossa história e a de nossos parceiros regionais com o resto do mundo.
Além disso, sermos convidadas para a próxima assembleia da APN [African Philanthropy Network, ou Rede Afrincana de Filantropia] na Uganda é outro exemplo dessa conexão com o programa. No momento, estamos avaliando cuidadosamente nossas opções para ver se podemos comparecer e participar da assembleia. Esperamos estar lá!
LI: As reuniões da Família Giving for Change [GfC Family] nos ajudam a ficar conectadas. Entretanto, os encontros poderiam ser mais baseados em tópicos, acredito que isso fará da aprendizagem entre pares uma experiência mais eficaz. Por exemplo, quando exibimos o filme sobre soberania alimentar, a Micaia Foundation entrou em contato conosco, e foi bom ter esse tipo de comunicação direta com eles. Esperamos que mais coisas como essa aconteçam. Depois de conhecer os parceiros pessoalmente na reunião de Acra, a união continuou nas reuniões virtuais mensais da GfC Family. Então, como Samar mencionou, foi bom compartilhar o espaço juntos.
EE: Talvez, Lina, vocês possam nos ajudar sugerindo alguns desses tópicos para serem discutidos nas reuniões da GfC Family. Não importa se, no inicio, os tópicos sugeridos são relevantes apenas para vocês, porque acho que só o fato de os trazer para a pauta nas reuniões da GfC Family ajudaria outras pessoas a conhecer mais sobre seu trabalho e seus desafios e abrir o espaço para mais aprendizado. Também estamos explorando outras táticas com essas reuniões, talvez tornando-as rotativas entre os parceiros para que cada mês possa ser dedicado a um país específico, por exemplo.
SA: Sabe, quando li a experiência do Uganda NGO Forum (Fórum de ONGs de Uganda) na plataforma Treehouse, fiquei surpresa com as semelhanças entre os desafios que enfrentamos em nossos países, e acho que eles são muito corajosos em sua luta com o governo. Aprendi muito lendo essa entrevista.
BK: Uma das coisas que descobri ao trabalhar com o GFCF todos esses anos é que os valores, as pressões e as conquistas dos parceiros em todo o mundo são muito semelhantes. E foi assim que criamos a estrutura assets, capacity, and trust (ACT) (ativos, capacidade e confiança) para descrever esse tipo de trabalho. E uma das coisas que posso oferecer como apoio é lhes dar cobertura e dizer as coisas que você não pode dizer, porque se outras pessoas falam essas coisas por você, às vezes elas ganham uma ressonância diferente. Precisamos proteger uns aos outros por meio desse programa porque estamos todos tentando fazer algumas coisas radicais, que não são o padrão estabelecido. Qualquer processo de mudança contra a ordem vigente será difícil.
BK/EE: Nossa última pergunta é a seguinte – como vocês enxergam o futuro? É uma pergunta mais de sonho, então podem ser o quão amplas quiserem.
SA: Gostaria de servir as comunidades em que trabalhamos de forma mais ampliada e preciso estar em rede com outras OSCs que também tenham a mesma visão, para celebrar nosso serviço comunitário juntas e para, também juntas, nos livrarmos dos traumas de nossas experiências. Esse é meu sonho.
LI: Para mim, meu sonho é trazer à tona o poder interior dos palestinos e quão ricos somos como povo, quão rica é nossa cultura. Meu sonho é que os palestinos possam se dar conta de sua própria capacidade e recursos com confiança e orgulho e que Dalia seja a facilitadora desse processo. No final, nossa esperança é que nos livremos da ocupação e de qualquer controle e amarras à estrutura de ajuda internacional – uma verdadeira libertação de si e da política. Podemos encontrar uma linguagem comum de semelhança entre nós.
BK: Se pudermos realmente construir nosso próprio senso de amor e trabalhar juntos, isso será realmente poderoso. Ser capaz de encontrar as coisas que nos unem como humanos é fundamental. Esse tipo de mentalidade de amor, em vez do paradigma do medo, deve ser o caminho para seguir em frente.
Uma versão deste artigo foi também publicada em inglês e francês.